Por Raquel Torres

A leitura da comunicação não verbal em grupos focais

Em uma conversa de grupo focal, o que os participantes dizem em voz alta é importante, claro. Mas o que eles não dizem também pode contar muita coisa. Às vezes, um silêncio prolongado, um olhar de lado, um suspiro ou uma leve mudança na voz dizem mais do que mil palavras.

A maneira como a pessoa se senta, se movimenta, mexe as mãos ou reage com o rosto pode mostrar sentimentos que ela nem sabe que está expressando. Pode acontecer, por exemplo, de alguém dizer que concorda com algo, mas cruzar os braços e desviar o olhar. Isso pode indicar que, no fundo, ela não está tão confortável com a ideia.
Por isso, quem conduz um grupo focal precisa estar atento a esses detalhes. Esses sinais ajudam a perceber o que está por trás das falas, entender resistências e captar melhor o impacto do assunto discutido. Eles enriquecem a análise e ajudam a ver além do óbvio.

Algumas atitudes simples fazem toda a diferença nessa observação:

1. Olhe com atenção
Desde o começo da conversa, repare no comportamento dos participantes. Veja como se sentam, que expressões fazem, como usam as mãos e o tom de voz. Note também como elas reagem ao ouvir os outros e como interagem entre si.

2. Faça perguntas que puxem sentimento
Evite perguntas que só pedem “sim” ou “não”. Prefira aquelas que estimulam a pessoa pensar sobre o sentir, como: “O que você sentiu quando ouviu isso?” ou “O que passou pela sua cabeça naquela hora?”.

3. Use a imaginação como ferramenta
Aplicar exercícios projetivos ajuda o participante a liberar o que ele está sentindo. Isso tira um pouco do peso e facilita a fala. A máxima popular “existe sempre uma verdade latente por trás de uma brincadeira” não pode ser mais verdadeira. 

4. Mostre acolhimento
Quando alguém se abre de verdade, é importante valorizar isso. Acolher bem quem fala encoraja os outros a se expressarem também.

Durante a conversa, fique atento a certos sinais:

•	Expressão facial: uma cara de dúvida ou um sorriso já dizem bastante.

•	Tom de voz: às vezes, a pessoa fala com palavras neutras, mas o tom entrega desconforto ou ironia.

•	Postura corporal: braços cruzados, corpo distante... pode ser sinal de resistência. Já quem se inclina pra frente geralmente está mais interessado.

•	Gestos: mãos agitadas podem indicar empolgação; inquietação constante pode mostrar nervosismo.

•	Ambiente: se o lugar é frio, apertado ou desconfortável, isso afeta o comportamento de todo mundo.

Vale lembrar que cada pessoa tem seu jeito de se comunicar. Um gesto que parece rejeição em uma pessoa pode ser só costume em outra. Tem gente que fala pouco, mas se expressa com o corpo ou o olhar. Outras são mais falantes, usam o corpo inteiro para se comunicar.

Por isso, é importante não tirar conclusões rápidas. O ideal é sempre observar o conjunto: o que é dito, como é dito, o clima do lugar, o momento da conversa. Com o tempo, a gente vai pegando o jeito, a sensibilidade vai se ajustando. E aí, mesmo nos silêncios, dá pra perceber muito do que está sendo dito sem palavras ou nas entrelinhas delas. 

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